"Lendas de Exu" na Escola: ignorância? Discriminação? Intolerância religiosa?

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Aí vão alguns artigos sobre o assunto, em breve uma avaliação própria!



Livro sobre Exu causa guerra santa em escola municipal

Professora umbandista diz que foi proibida de dar aulas em unidade de Macaé, dirigida por diretora evangélica

POR RICARDO ALBUQUERQUE, RIO DE JANEIRO

Rio - As aulas de Literatura Brasileira sobre o livro ‘Lendas de Exu’, de Adilson Martins, se transformaram em batalha religiosa, travada dentro de uma escola pública. A professora Maria Cristina Marques, 48 anos, conta que foi proibida de dar aulas após usar a obra, recomendada pelo Ministério da Educação (MEC). Ela entrou com notícia-crime no Ministério Público, por se sentir vítima de intolerância religiosa. Maria é umbandista e a diretora da escola, evangélica.

A professora Maria Cristina mostra desenhos feitos por alunos após a leitura: mães evangélicas se rebelaram. Foto: Paulo Alvadia / Agência O Dia

A polêmica arde na Escola Municipal Pedro Adami, em Macaé, a 192 km do Rio, onde Maria Cristina dá aulas de Literatura Brasileira e Redação. A Secretaria de Educação de lá abriu sindicância e, como não houve acordo entre as partes, encaminhou o caso à Procuradoria-Geral de Macaé, que tem até sexta-feira para emitir parecer. Em nota, a secretaria informou que “a professora envolvida está em seu ambiente de trabalho, lecionando junto aos alunos de sua instituição”.

A professora confirmou ontem que voltou a lecionar. “Voltei, mas fui proibida até por mães de alunos, que são evangélicas, de dar aula sobre a África. Algumas disseram que estava usando a religião para fazer magia negra e comercializar os órgãos das crianças. Me acusaram de fazer apologia do diabo!”, contou Maria Cristina.

Sacerdotisa de Umbanda, a professora se disse vítima de perseguição: “Há sete anos trabalho na escola e nunca passei por tanta humilhação. Até um provérbio bíblico foi colocado na sala de professores, me acusando de mentirosa”.

Negro, pós-graduado em ensino da História e Cultura Africana e Afro-Brasileira, o diretor-adjunto Sebastião Carlos Menezes aguardará a conclusão da procuradoria para opinar. “Só posso lhe adiantar que a verdade vai prevalecer”, comentou. Pastor da Igreja Presbiteriana do Brasil, Sebastião contou que a diretora Mery Lice da Silva Oliveira é evangélica da Igreja Batista.

ATÉ CINCO ANOS DE PRISÃO

“Se houver preconceito de religião, acredito que deva ser aplicado todo o rigor da lei”, afirmou o coordenador de Direitos Humanos do Ministério Público (MP), Marcos Kac. O crime de intolerância religiosa prevê reclusão de até 5 anos. Em caso de injúria, a pena varia de 3 meses a 2 anos de prisão. O MP poderá entrar com ação pública penal se comprovar a intolerância religiosa. “Caso contrário envia à delegacia para inquérito”, explicou Kac.

Alunos do 7º ano leram a obra: referências ao folclore

Em 180 páginas, o livro ‘Lendas de Exu’, da Editora Pallas, traz informações sobre uma das principais divindades da cultura afro-brasileira. O autor da obra, Adilson Martins, remete ao folclórico Saci Pererê para explicar as traquinagens e armações de Exu.

Na introdução, Martins diz que ele é “um herói como tantos outros que você conhece”. Em Macaé, 35 alunos do 7º ano do Ensino Fundamental leram o livro.

Nas religiões afro-brasileiras, Exu é o mensageiro entre o céu e a terra, com liberdade para circular nas duas esferas. Por isso, algumas pessoas acabam o relacionando a Lúcifer.

O presidente da Comissão de Combate à Intolerância Religiosa, Ivanir dos Santos, garantiu que outros autores de livros, como Jorge Amado e Machado de Assis, sofrem discriminação nas escolas: “As ideias neopentecostais vêm crescendo muito, desrespeitando a lei”.

Ivanir explicou que o avanço da discriminação religiosa provocou o agendamento de um encontro, dia 12 de novembro, com a CNBB: “Objetivo é formar uma mesa histórica sobre os cultos afro e estabelecer uma agenda comum”.

VIVA VOZ
Até mães de alunos me proibiram de falar sobre a África

“Acusam-me de dar aula de religião. Não é verdade. No livro ‘Lendas de Exu’, de Adilson Martins, há histórias interessantes, são ótimas para trabalhar com os alunos. Li os contos, como se fosse uma contadora de histórias, dramatizando cada uma delas. Praticamos Gramática, e os alunos ilustraram as histórias de acordo com a imaginação deles. Não dá para entender por que fui tão humilhada. Até mães de alunos, evangélicas, me proibiram de falar sobre a África”.

MARIA CRISTINA MARQUES, professora, 48 anos

http://odia.terra.com.br/portal/rio/html/2009/10/livro_sobre_exu_causa_guerra_santa_em_escola_municipal_42866.html

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Professora de Macaé é punida por ensinar conteúdo afro

Flávio Dilascio, Jornal do Brasil


RIO DE JANEIRO - Depois de amargar uma suspensão de 45 dias, a professora da rede pública municipal de Macaé Maria Cristina Marques acusou ontem os diretores da escola onde trabalha, a Pedro Adami, de perseguição por motivos supostamente religiosos. Ela foi afastada por usar em sala de aula o livro Exu – contos do folclore brasileiro em suas aulas de Língua Portuguesa, ato considerado pela diretoria como doutrinador.

O livro, de Adilson Martins (editora Pallas), tem parecer do MEC e estava disponível na biblioteca da própria escola. Teria sido recomendado à professora por um aluno. Cursando pós-graduação em cultura afro na Faculdade de Macaé, Maria Cristina logo se interessou pela publicação, levando-a às suas aulas de literatura. Apesar da boa aceitação dos alunos, a utilização levou a diretora, Mary Lice da Silva, e o sub-diretor, Sebastião Carlos Menezes, a punirem a professora.

– Fico muito triste por não poder mostrar a cultura afro. Não considero esse livro religioso, pois ele apenas narra contos – justifica a professora, que voltou a trabalhar graças a uma determinação da Procuradoria da prefeitura de Macaé.

A Secretaria de Educação do município abriu sindicância contra a diretoria da escola. A Procuradoria, no entanto, está investigando a conduta da professora, o que revoltou membros da Comissão de Combate à Intolerância Religiosa.

A favor de Maria Cristina estão dois abaixo-assinados (um de professores e outro de alunos do turno da noite), várias fotos e ainda o testemunho de dois funcionários.

– Em um primeiro momento, estamos trabalhando em apurar o fato e encaminhar ao Ministério Público um pedido de retratação com base na lei que diz respeito à discriminação religiosa. Posteriormente, entraremos com uma ação de injúria contra a diretora e o subdiretor, que podem ser condenados de um a dois anos de pisão – explica o advogado da Comissão de Combate à Intolerância Religiosa, Carlos Nicodemos.

Procurada pelo JB, a diretoria da Pedro Adami não foi encontrada nos telefones da escola.

21:06 - 26/10/2009

http://jbonline.terra.com.br/pextra/2009/10/26/e261017893.asp

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Guerra Santa nas salas de aula, entre evangélicos e umbandistas

28 / outubro / 2009 - 10:45 Brasil, Notícias Gospel

Aulas de História afro na Justiça Perícia no currículo das escolas de todo o estado vai fiscalizar presença de disciplina obrigatória sobre cultura negra

A ‘guerra santa’ entre evangélicos e umbandistas causada pela leitura em sala de aula do livro ‘Lendas de Exu’, de Adilson Martins, está longe do fim. Medida cautelar na 2ª Vara de Fazenda Pública exige perícia no currículo das escolas públicas e privadas do Estado do Rio para saber como a disciplina ‘História e Cultura Afro-Brasileira’, obrigatória nas redes de ensino desde 2003, está sendo aplicada.

Adilson Martins já escreveu quatro livros inspirados na cultura afro.

Quatro ONGs do movimento negro impetraram a ação, há um ano e quatro meses, por desconfiar que os colégios desrespeitam a Lei 10.690/03, que incluiu a matéria no currículo escolar oficial. O Centro de Articulação de Populações Marginalizadas e a Comissão de Combate à Intolerância Religiosa estimam que menos de 50% das escolas no Estado do Rio seguem a determinação.

A discussão sobre a inclusão da disciplina voltou depois que a professora Maria Cristina Marques usou o livro ‘Lendas de Exu’ com alunos do 7º ano da Escola Municipal Pedro Adami, em Macaé. A leitura provocou desentendimento com os diretores da escola Mery Lice da Silva Oliveira e Sebastião Carlos Menezes. Segundo a professora, ela foi impedida de dar aula.

Os vereadores Luís Sérgio (PMDB) e Ronaldo Gomes (PT do B) repudiaram, ontem, a atitude dos diretores no plenário da Câmara de Macaé. Hoje, eles se encontram com a secretária municipal de Educação, Marilene Garcia.

“Quando a cultura afro-brasileira invadir as escolas, nós teremos a redescoberta da República Brasileira, encontrando personagens que sequer foram citados em livros e não tiveram suas histórias contadas”, analisou Humberto Adami, ouvidor do Ministério da Igualdade Racial e ex-presidente da ONG Instituto Iara, uma das que impetraram a ação.

“Intolerância religiosa é inaceitável! Não vamos manter esta postura em nossas escolas”, comentou a secretária municipal de Educação do Rio, Cláudia Costin. Sua pasta informou que as 1.063 escolas da rede carioca são orientadas a abordar História e Cultura Afro-Brasileira nas aulas de História, Língua Portuguesa e Artes.

Autor do livro lamenta intolerância

Autor do livro recomendado pelo MEC ‘Lendas de Exu’, o escritor Adilson Martins, 70 anos, lamentou que a publicação esteja envolvida em questão religiosa. “Qualquer tipo de intolerância é desagradável. É apenas um trabalho infanto-juvenil que busca propagar a cultura afro-brasileira e romper a imagem de demônio de Exu”, explicou. Adilson tem mais dois livros com o aval do MEC: ‘O papagaio que não gostava de mentiras’ e ‘Erinlé, o caçador’, publicações voltadas para o público infantil.

http://www.gospelprime.com.br/guerra-santa-nas-salas-de-aula-entre-evangelicos-e-umbandistas/

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Professora denuncia discriminação

26/10/2009

Maria Cristina Marques

Em entrevista à imprensa na tarde desta segunda-feira, 26 de outubro, no Rio, o advogado Carlos Nicodemos, representante da professora Maria Cristina Marques, disse que deu entrada na 123ª DP, de Macaé, com queixa criminal contra a diretora da escola municipal Pedro Adami (região serrana de Macaé, no Norte Fluminense), Mery Lice da Silva Oliveira e o pastor presbiteriano e Vice-diretor Sebastião Carlos Menezes, que afastaram a educadora da unidade de ensino, por causa de uma aula de Literatura Brasileira e Redação em que utilizou o livro “Lendas de Exu”, de Adilson Martins, que aborda as tradições culturais e religiosas de matriz africana que se desenvolveram no Brasil.

A diretora e o Vice-diretor — ela evangélica e ele presbiteriano — também foram denunciados administrativamente à Procuradoria-Geral de Macaé, acusados de desvio de conduta disciplinar com fins de discriminação.

O caso já havia sido noticiado pelo ABI Online, depois de denunciado por Maria Cristina Marques durante o Seminário Nacional sobre a Proteção à Liberdade Religiosa, realizado em 30 de setembro na ABI. Neste domingo, dia 25 de outubro, foi motivo de nota na coluna de Ancelmo Gois, no jornal O Globo.

Segundo Carlos Nicodemos, ao final da apuração de infração penal, os dois poderão ser enquadrados na Lei 7.716, conhecida como Lei Caó, que determina pena de um a cinco anos de reclusão, sem direito a fiança, porque na atitude dos dirigentes da escola “há indícios de prática inconstitucional discriminatória e intolerância religiosa”. Além disso, Mery Lice e Sebastião Carlos Menezes podem ser processados também por crime de injúria, cuja pena pode variar de três meses a dois anos de reclusão.

De acordo com o advogado de Maria Cristina, o delegado que vier a ser encarregado pelo caso tem até 30 dias para se pronunciar, mas os requerentes querem que o prazo seja mais curto:
— Como há indícios de dois crimes diferentes, nós pedimos que haja a instauração imediata do inquérito policial. Eles também terão que responder por crime de injúria contra a honra de Maria Cristina, afirmou o advogado que representa a Comissão de Combate à Intolerância Religiosa, que congrega membros de diversas seitas religiosas no Rio de Janeiro.

Humilhação

Maria Cristina Marques contou que fez um curso de pós-graduação em História e Cultura Africana e Afro-Brasileira oferecido pela Prefeitura de Macaé aos professores da rede municipal. Disse que o livro “Lendas de Exu”, editado pelo MEC, ela pegou na biblioteca da escola, e é uma obra recomendada pela Secretaria Municipal de Educação.

A professora contou que quando soube da aula a diretora Mery Lice a ameaçou: “Ou você pára ou eu vou lhe colocar pra fora. A comunidade aqui é evangélica, se você não parar vai ter que sair”. Contou que até mães de alunos ficaram contra ela:
— Fui proibida de falar sobre África até pelas mães de alunos, que são evangélicas — disse Maria Cristina Marques, acrescentando que a aula em que falava de Exu não teve conotação religiosa, mas uma abordagem literária sobre a herança cultural deixada pelos africanos no Brasil. — Acusam-me de dar aula de religião. Não é verdade. No livro “Lendas de Exu”, de Adilson Martins, há histórias interessantes, são ótimas para trabalhar com os alunos. Li os contos, como se fosse uma contadora de histórias, dramatizando cada uma delas.

Maria Cristina disse que aproveitou a história para exercitar práticas gramaticais e redação com os alunos:
— Praticamos Gramática, e os alunos ilustraram as histórias de acordo com a imaginação deles. Não dá para entender por que fui tão humilhada.

Por causa da punição, Maria Cristina disse que ficou mais de um mês afastada da escola e que neste período os alunos ficaram sem aulas de Português:
— Agora estou mais tranqüila, pois a Procuradoria da Prefeitura tomou conhecimento do meu caso e determinou que eu voltasse a lecionar. Prejudicados também foram os meus alunos de Língua Portuguesa que ficaram 45 dias sem aulas. Mas não dá para ficar parada e eu acredito que a Procuradoria de Macaé e vai continuar investigando o caso. Voltar à sala de aula já é uma decisão favorável a mim.

Como já tivemos a oportunidade de noticiar no ABI Online, o caso da professora de Maria Cristina é um flagrante desrespeito à liberdade de expressão, que fere a Constituição de 1988 e a Lei federal 10.639/03, sancionada pelo Presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que determina o ensino da História africana e da cultura afro-brasileira nas escolas.

http://www.abi.org.br/primeirapagina.asp?id=3250

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