A África precisa brilhar com luz própria

|
por Alecia D. McKenzie
www.mwglobal.org/ipsbrasil.net/nota.php?idnews=4832


Ao olhar uma fotografia tirada por satélite da Terra, parece que na África há um grande apagão, sobretudo quando comparada com a luminosidade da Europa ou dos Estados Unidos.

Mas, não se trata de um apagão. Cerca de 77% da população da África subsaariana não eletricidade, segundo especialistas na matéria que se reuniram em Paris no último dia 4 para discutir os problemas energéticos do continente africano. “Um cidadão norte-americano gasta, em média, 350 vezes mais eletricidade do que um etíope”, disse Claude Madil, ex-diretor-executivo da Agência Internacional de Energia, em cuja sede da capital francesa aconteceu a conferência “Acesso a todo tipo de energia na África: quais são as soluções”. Esse número “dá uma idéia de quanto a brecha é profunda. Quando se olha a quantidade de quilowatts que cada país usa, o problema é evidente”, disse à IPS.

Na conferência foram destacados os obstáculos que a falta de energia impõe ao desenvolvimento. também foi uma instância de encontro entre organizações e pessoas que tentam aliviar o problema. Uma delas é a Rede Africana de Energias Renováveis (Aogreen), dedicada a difundir oportunidades de emprego entre jovens africanos no setor energético e promover o desenvolvimento de fontes sustentáveis. A Aogreen colabora com a Associação para o Desenvolvimento de Energia na África (Adea), outra organização com sede em Paris, que trabalha com empresas, governos e especialistas na busca de soluções para os problemas energéticos do cotinente. A conferência, organizada pelas duas instituições.

O norte e o sul do continente estão bastante eletrificados. Mas a região subsaariana não e pode piorar a situação se pela crise financeira internacional as empresas decidirem reduzir seus investimentos nas nações em desenvolvimento, temem organizações não-governamentais e autoridades de alguns governos. “É preciso o comprometimento de fundos para melhorar a situação, especialmente nas áreas rurais”, disse à IPS Cedric D’Almeida, presidente da Aogreen. Quase 530 milhões de africanos não têm eletricidade, segundo a Organização das Nações Unidas, e em 20 anos poderão ser 600 milhões. A situação se agrava nas zonas rurais, onde o problema afeta 95% da população.

Nas comunidades rurais, a falta de eletricidade tem sérias consequências. O uso de madeira e outro tipo de biomassa para cozinhar consome tempo, causa desmatamento e contaminação e gera problemas respiratórios nas populações mais pobres. As mulheres costumam ficar com a pior parte, pois são elas que recolhem a lenha e ficam inclinadas sobre os fumegantes fogões. O problema energético se agrava em algumas cidades, segundo informes apresentados na conferência. A falta de manutenção de instalações causa freqüente e cada vez mais prolongados apagões, que afetam a produção e a renda nacional.

Parte da solução pode ser aproveitar o “enorme potencial” do continente em fontes renováveis de energia, disseram vários especialistas, como a hidrelétrica, solar, eólica e geotérmica, obtida do calor do interior da Terra.

Cerca de 15% da eletricidade do Quênia são produzidos por energia geotérmica. Outros países poderiam fazer o mesmo, afirmam cientistas. A energia solar e os biocombustíveis são a solução para o meio rural africano, especialmente se obtidos de forma sustentável, disse Chirstèle Adedjoumon, especialista em logística e presidente da Associação para o Despertar e o Desenvolvimento de Benin, com sede em Paris.

Muitas nações africanas têm, em média, mais de 300 dias de sol por ano, o que torna viável a energia solar, disse Adedjoumon. Mas a tecnologia exige grandes investimentos e é aí que devem intervir as agências internacionais, os países industrializados e as multinacionais. Adedjoumon e sua organização realizam um projeto na aldeia de Hon, no Benin, dentro do qual se fornece aos seus moradores seis horas diárias de eletricidade com painéis solares. Foi uma mudança total para a aldeia, acrescentou. Por fim, podem ter uma televisão e utilizar telefone celular. Já não precisam andar 20 quilômetros para carregar as batrias. A organização capacitou as mulheres para que cuidassem dos aparelhos e “não tivessem que deixar os filhos para buscar trabalho em outro lugar”, ressaltou.

O custo do projeto, patrocinado pelo Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (Pnud) e pelo Barefoot Coillege da Índia, é de pouco menos de US$ 172 mil por 20 anos, incluindo salários, reparações e renovação de baterias. Barefoot College é uma organização criada em 1972 para resolver diferentes problemas do meio rural. “É absolutamente necessário compartilhar a mesma posição, para que todos se sintam incluídos”, insistiu Adedjoumon.

“É necessário capacitar as mulheres para que possam instalar e manter o sistema. O abandono dos painéis solares é um problema em muitas regiões. Uma manutenção adequada o torna sustentável e é uma fonte de emprego para os próprios africanos. Mas, são projetos que exigem financiamento”, afirmou Adedjoumon, a União Européia coopera através da Associação de Energia África-UE para elevar eletricidade à região subsaariana, disse Jean Lamy, chefe do escritório de energia e clima do Ministério de Assuntos Europeus e Estrangeiros.

Uma importante quantidade de energia empregada na Europa procede do petróleo refinado em países africanos. Alguns de seus governos têm acordos para destinar a ajuda ao desenvolvimento de fontes alternativas. Mas, ainda resta chegar-se a um acordo sobre as prioridades, disse Lamy. “Semenergia não há desenvolvimento nem se pode lutar de forma efetiva contra a pobreza. Seja um problema de eletrificação rural, infra-estrutura ou falta de energia nos centros povoados, o desenvolvimento social e econômico fica prejudicado”, ressaltou. IPS/Envolverde (FIN/2009)

fonte:
http://www.casadasafricas.org.br/site/index.php?id=noticias&sub=01&id_noticia=802

1 comentários:

aaaaaaa aaaaa disse...

Veja o caso emblemático da Nigéria.
Um grande país exportador de petróleo e diamantes (muito maior que Angola), com uma população imensa, ou seja: com as condições materiais e com os recursos humanos, e mesmo assim, não sai do buraco. Não adianta os europeus levarem eletricidade para esta parte do mundo. Para que isso ocorra isso deve partir deles mesmos ou então estarão fadados ao fracasso. O europeu insiste em "resolver os problemas dos outros", e, na maior parte das vezes cria mais problemas. Lembrem-se do Congo Belga, que, entre outras coisas, levou os tutsis a se desenvolverem mais que os hutus... o resultado foi dramático.
Os africanos têm que fazer isso por e para eles mesmos, ou o dinheiro vai acabar na mão da corrupção das classes dirigentes locais.